Tá todo mundo em crise
- Yayá Lisboa
- 2 de mai. de 2017
- 2 min de leitura

A outrora bebê bonitinha, com lindos cabelos cacheados, ou, ainda, a adolescente feinha, considerada a "amiga" da galera, é agora estrela da Internet e fenômeno por onde passa. Julia Tolezano, a criadora do canal no Youtube "Jout Jout Prazer", destaca-se no mundo virtual por sua abordagem espontânea e bem-humorada, porém séria, quando se faz necessário, dos mais variados temas cotidianos - inclusive os considerados "tabu", como o sexismo, a homofobia e os relacionamentos abusivos. Julia, que frequentou meio semestre do curso de Letras na UFF e formou-se em Jornalismo na PUC-Rio, teve desde sempre a literatura como um dos seus grandes amores. Isso a fez sonhar, na época do vestibular, com o curso de "Produção Editorial", já que, assim, poderia trabalhar em editoras de livros.
Além disso, ela sempre escreveu. Contudo, sua insegurança e o medo das críticas formaram uma barreira: Julia jamais consideraria mostrado seus escritos a alguém. Isso até seu ex-namorado achar, acidentalmente, alguns textos escritos por ela e pedir para lê-los. Após uma longa sessão de insistência, Julia acabou permitindo a leitura - sob a condição de Caio usar um casaco amarrado ao rosto, deixando apenas os olhos de fora (para prevenir possíveis reações de crítica). E, deixá-lo ler, foi a melhor coisa que ela fez. Tendo seus textos muito elogiados pelo rapaz, Jout Jout pôde, enfim, reconhecer-se talentosa e, a fim de superar seus entraves psicológicos, resolveu criar o canal. Em consequência disso, e com grande apoio e convite de diversas editoras, veio a ideia do livro.
"Tá todo mundo mal", lançado em 2016, pela Companhia das Letras, é um livro de crônicas leves e de linguagem simples - semelhante a utilizada nos vídeos -, que aborda as diversas crises existenciais vividas pela autora ao longo de seus 25 anos de vida. O também chamado "livro das crises" torna a vida de Julia um "livro aberto" ao colocar em evidência, entre outros episódios, a esperança de encontrar o "príncipe encantado" prometido por sua mãe, o fracasso nas tentativas de manter-se em um trabalho "normal", ou, ainda, a constrangedora experiência com "puns quentinhos". Além disso, por tratar-se de um livro que surge a partir de um canal no Youtube, há crises relacionadas aos temas abordados e à própria gravação dos vídeos, assim como a questões profissionais - a sondagem de grandes empresas para a realização de merchandising, por exemplo.
A obra autobiográfica, sobretudo, vai mais longe do que explicitamente pretende. Mais do que uma simples compreensão da humanidade de sua autora, o livro permite ao leitor identificar-se como humano também. Isso porque, quem escreve tem crises mas quem lê também. Todos as têm. Basta identificá-las, não levá-las tão a sério e, quem sabe, até amá-las - como Julia aprendeu a fazer.

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