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Os anos 80 em uma caixinha (que insiste em acabar com todas)

  • Laís Malek
  • 2 de mai. de 2017
  • 3 min de leitura

"O clube dos cinco" é um drama norte-americano da década de 80 escrito e dirigido por John Hughes. Estrelado por Emilio Estevez (Andrew Clark), Anthony Michael Hall (Brian Johnson), Judd Nelson (John Bender), Molly Ringwald (Claire Standish) e Ally Sheedy (Allison Reynolds), o longa narra uma situação comum em escolas americanas: jovens passando uma tarde de sábado cumprindo detenção. A naturalidade da relação que os estudantes passam a ter é tão realista que ainda hoje, 30 anos depois de seu lançamento, a obra faz sucesso com os adolescentes, que se identificam com os dramas vividos pelos personagens.

O filme começa com uma cena que mais tarde revelará muito sobre os personagens — o momento em que os pais deixam seus filhos na escola para a detenção. Essas cenas curtas passam despercebidas para o espectador que está vendo o filme pela primeira vez, mas são elas que dão pistas para os problemas que os personagens tem dentro de casa: Claire é usada pelos pais para provocarem um ao outro, Andrew é pressionado para seguir os passos do atleta que um dia seu pai foi, Allison é completamente ignorada e deixada na escola sem nenhuma interação familiar, Brian é lembrado de que aquela detenção manchará sua até então ficha escolar impecável e pode atrapalhar sua futura aceitação em alguma faculdade e, por último, Bender chega sozinho a pé.

Os estudantes se reúnem na biblioteca e são instruídos pelo diretor, Richard "Dick" Vernon (Paul Gleason), cujo autoritarismo é a causa da antipatia dos estudantes por ele, a escrever uma redação sobre quem eles acreditam que o outro é, sem se mover de seus lugares nas carteiras e sem conversarem entre si. Bender é quem vocaliza essa insatisfação através de comentários debochados em resposta ao diretor e acaba sendo punido com detenções até o fim do ano letivo. Ao contrário do que pode parecer, é o estudante quem sai como o vitorioso desse conflito, e essa mudança de poder é precursora para diversas outras situações de questionamento de hierarquias e papeis sociais que ocorrem durante a trama.

Na sequência, esses estudantes, que são completos estranhos, se veem diante de quase nove horas de tédio com apenas uma obrigação. Bender é o primeiro a quebrar a regra de não interagir e começa a provocar os outros, mas logo é repreendido, principalmente por Andrew. A discussão atrai a atenção de Vernon, que volta à sala insistindo que os alunos se mantenham em silêncio e se concentrem na tarefa, e o tom ditatorial do diretor acaba transformando-o um inimigo comum que facilita a união dos alunos. A partir daí, eles começam a conversar sobre suas experiências na escola e o público descobre os papeis por eles desempenhados, que é o tema da redação: Claire é a patricinha, a garota popular mimada; Andrew é o atleta, também popular, e autor de "pegadinhas" com outros alunos; Allison é a neurótica, uma figura solitária que afasta qualquer um por sua aparência e personalidade desagradáveis; Brian é o gênio, o CDF sem traquejo social; Bender é o marginal, cuja (má) fama se espalha pela escola e confere a ele um ar de bad boy. O público descobre, ao mesmo tempo que os personagens, que nenhum deles se limita ao seu papel designado, ao contrário — todos tem um pouco de cada uma dessas características.

Para passar o tempo, envolvem-se em diversas aventuras: uma biblioteca até o armário de Bender para pegar maconha, uma sequência de dança que se tornou uma cena icônica para o cinema, a fuga de Bender de sua ‘solitária’ após ser expulso da biblioteca por Vernon. Tudo isso aproxima os personagens, culminando em um momento no qual eles revelam o motivo de estarem em detenção. Livres de inibições, sob efeito da droga, os estudantes contam histórias comoventes sobre suas vidas no momento mais solene do filme. A mensagem do filme está definida nessa cena: apesar da imagem que aparentam, no fundo todos são apenas adolescentes comuns, com problemas similares mas que se desdobram em consequências diferentes.

A película se encerra com a narração de Brian sobreposta com os personagens indo ao encontro (ou não) dos pais para ir embora, em um paralelo com a cena de abertura do filme. O texto que Brian, escolhido unanimemente para ser o autor, lê não é a redação solicitada por Vernon, mas uma que descreve o oposto do que o diretor pediu. Nela, ele questiona a real intenção do diretor ao passar o trabalho: “Você nos enxerga como você deseja nos enxergar. Em termos mais simples e com as definições mais convenientes. Mas o que descobrimos é que cada um de nós é um cérebro, um atleta, um caso perdido, uma princesa e um criminoso. Isso responde sua pergunta?”. Esse desfecho é a síntese perfeita da quebra de estereótipos que o filme propõe, um tema que até hoje continua sendo relevante.

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